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Perímetros irrigados transformam vida de pequenos produtores

A produção de 2,3 milhões de toneladas de alimentos – sendo 740 mil toneladas oriundas de agricultores familiares -, os 88 mil empregos diretos gerados e os mais de 84 mil hectares cultivados atestam o sucesso dos 25 perímetros irrigados sob a responsabilidade da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), que em 2011 constatou um aumento de 29% no valor bruto da produção agrícola em relação ao ano anterior: R$ 1,28 bilhão.
publicado: 20/07/2012 17h36, última modificação: 06/10/2023 17h10

A produção de 2,3 milhões de toneladas de alimentos – sendo 740 mil toneladas oriundas de agricultores familiares -, os 88 mil empregos diretos gerados e os mais de 84 mil hectares cultivados atestam o sucesso dos 25 perímetros irrigados sob a responsabilidade da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), que em 2011 constatou um aumento de 29% no valor bruto da produção agrícola em relação ao ano anterior: R$ 1,28 bilhão. A conta não incluiu os dez perímetros irrigados que integram o Sistema Itaparica, administrado pela Codevasf por meio de convênio com a Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf).

Uma das explicações para tal êxito de produtividade é a disponibilização de serviços de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater), por meio de contratação de entidades especializadas. De acordo com o diretor da Área de Gestão dos Empreendimentos de Irrigação da Codevasf, Solon Braga, esse trabalho é uma prioridade da empresa e deve ser fortalecido. “A Codevasf sempre esteve próxima aos pequenos produtores. Eles sabem trabalhar com a terra, mas nós temos de repassar orientações sobre como melhorar a produtividade, a comercialização e o uso da água e equipamentos de irrigação. Temos buscado reforçar esse trabalho de assistência técnica, com a meta de atender a todos os nossos perímetros”, afirma o diretor.

Os técnicos de Ater atuam na capacitação dos pequenos produtores e suas organizações para o planejamento da produção e gerenciamento do lote, indicando técnicas sobre pré e pós-colheita, comercialização, industrialização e transferindo tecnologias que permitam o aumento da produção, produtividade, renda e melhoria da competitividade. Atualmente, 10.261 famílias de pequenos produtores de perímetros irrigados da Codevasf são atendidas por esse serviço; se considerado o Sistema Itaparica, esse número cresce para 14.132.

É o caso, por exemplo, dos produtores do perímetro Itiúba, situado em Porto Real do Colégio, no Baixo São Francisco alagoano. Com 227 lotes familiares distribuídos em 894 hectares de área irrigável, o perímetro tem como principais culturas o arroz e a cana-de-açúcar, além da atividade de piscicultura. Segundo Alexsandro dos Santos, técnico da empresa de Ater contratada pela Codevasf para atuar naquela região, neste ano, teve início um trabalho de diagnóstico e, através desse levantamento, a empresa terá uma direção de como atuar para proporcionar melhorias ao pequeno produtor do Itiúba. “Os produtores estão em fase de preparo de solo para o plantio de arroz. Nós vamos fazer a análise desse solo e recomendar a adubação com base nos resultados. Além disso, vamos acompanhar o manejo do arroz irrigado, com controle de ervas daninhas”, completa.

Além da função de fazer o acompanhamento da produção propriamente dita, a equipe de Ater também capacita os produtores para uso racional da água e do solo e manejo seguro de agrotóxicos, visando à redução dos impactos ambientais e à preservação da saúde desses trabalhadores e dos consumidores finais.

A gerente de Apoio à Produção da Codevasf, Nair Emi Iwakiri, reforça que a oferta desses serviços pela Codevasf faz parte da estratégia de promover e manter a sustentabilidade dos perímetros públicos de irrigação, uma vez que a agricultura irrigada requer um uso mais intensivo de tecnologias e maiores investimentos para obter níveis elevados de produtividade e rentabilidade. “A Ater é uma demanda contínua, pois, independentemente do avanço educativo e econômico que esses produtores alcancem, as mudanças mercadológicas e conjunturais estarão a exigir deles novas ações técnicas, comerciais e organizacionais”, explica.

De acordo com o levantamento que considerou o ano de 2011, a área total cultivada nos 25 perímetros irrigados geridos pela Codevasf – empresa pública vinculada ao Ministério da Integração Nacional (MI) – foi de 84.018 hectares, com uma produção contabilizada em cerca de 2,3 milhões de toneladas em alimentos e outros produtos como cana-de-açúcar, sementes e forrageiras. No que diz respeito aos lotes familiares, de pequenos produtores, foram cultivados no ano passado quase 50 mil hectares, o que corresponde a 59% da área cultivada total. A produção familiar gerou cerca de 740 mil toneladas de alimentos e outros produtos. Esses dados refletem diretamente no número de postos de trabalho: nesses perímetros da Codevasf, a estimativa foi de 88 mil empregos diretos e 132 mil indiretos gerados no ano passado.

Vida dedicada ao campo

Para muitos brasileiros, a terra representa muito mais que o sustento: ela é praticamente a razão de toda uma vida. “Seu” João Roque, produtor do perímetro de irrigação Itiúba, dedicou a maior parte de seus 50 anos às atividades no campo. O ofício ele aprendeu com o pai, que era meeiro (agricultor que trabalha em terras que pertencem a outra pessoa). Hoje produz em seus próprios lotes arroz e peixes das espécies curimatã, tambaqui e piau. O alagoano orgulha-se ao falar das conquistas, frutos do árduo trabalho no Baixo São Francisco. “Eu tenho dois filhos formados, graças a Deus. Me considero um proprietário, já consegui até comprar um trator”, conta.

“Seu” João Roque preside as associações dos piscicultores e dos irrigantes do Itiúba. Para ele, a organização dos produtores é uma maneira de fortalecer a categoria e promover o desenvolvimento regional. Com a experiência de quem viu as mudanças ocorridas na localidade ao longo das últimas décadas, ele reconhece o trabalho da Codevasf para a melhoria das condições de vida da população. “Se não fosse a implantação dos perímetros pela Codevasf, a coisa seria muito séria. O índice de pobreza na região seria muito grande. A Codevasf tem sido uma grande aliada nossa, tem uma grande contribuição aqui dentro, desde a implantação até os dias de hoje”, afirma.

Fortalecimento das associações de produtores

A organização dos pequenos produtores por meio de associações ou cooperativas contribui para dar mais visibilidade à produção dos perímetros irrigados. Um exemplo bem sucedido é a Associação de Pequenos Produtores Manga Brasil, localizada no Perímetro de Irrigação Maniçoba, em Juazeiro (BA). Com 58 integrantes, a entidade começou a atuar em 2005 e, desde então, tem obtido destaque pela comercialização de manga para o mercado interno (São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Vitória) e externo (Holanda, Alemanha, Inglaterra e Canadá).

Para se ter uma ideia, de acordo com Josival Nascimento, sócio-fundador da Manga Brasil, no primeiro ano de atividades, a associação conseguiu vender 384 toneladas de manga. No ano passado, esse número foi de 695 toneladas, incluindo mercado interno e exportações.

Para ele, alguns fatores foram fundamentais para o crescimento da associação: a união dos pequenos produtores; o conhecimento adquirido junto à empresa de Ater contratada pela Codevasf e ao Sebrae, além do incentivo dado pela Companhia com a construção de uma packing house (casa embalagem das frutas) de 660 metros quadrados, a qual tem capacidade para beneficiar em torno de 22 toneladas da fruta por dia.

Além disso, o produtor destaca a obtenção do certificado Fair Traide (Comércio Justo) como uma forma de valorizar o produto. Esse modelo de comercialização tem como característica principal os procedimentos que tornem as relações comerciais mais transparentes, justas, solidárias e éticas, onde são estabelecidas normas que possibilitem maiores cuidados com o meio ambiente e com as pessoas envolvidas nesse processo. “Essa certificação indica a qualidade da procedência do produto e, com isso, passamos a ter uma boa visibilidade junto ao mercado consumidor”, explica Josival.

Outra conquista para a Manga Brasil foi o Selo Verde – Categoria Ouro, concedido pela organização Ecolmeia, de São Paulo. A organização que obtém o selo recebe o título de “Amiga do Meio Ambiente”, indicando para o mercado sua preocupação em promover o crescimento de forma sustentável. O reconhecimento da associação pautou-se no respeito às relações de trabalho, proteção do meio ambiente, racionalização do uso de insumos e água e controle da qualidade das frutas processadas em seu packing house, desde o plantio até a expedição para o mercado interno e externo.

Outras alternativas

A população que vive nos perímetros irrigados também tem buscado outras alternativas de renda além da agricultura irrigada. É o caso da Associação Cultural e Ambiental do Projeto Jaíba – Bananarte, no norte de Minas Gerais, que trabalha com artesanato em fibra de bananeira.

De acordo com Sirlene Soares, representante da Bananarte, a associação começou a partir da necessidade de trabalho das mulheres residentes no projeto de irrigação, que ficavam por conta dos afazeres domésticos ou atuavam diretamente na roça.

Hoje, cerca de 20 integrantes se reúnem diariamente para produzir cestas, mandalas, bandejas, porta-joias, entre outros itens a partir da fibra de bananeira que, sem esse trabalho, seria descartada. Os produtos artesanais são comercializados em feiras e no comércio local. Em “épocas de fartura”, cada associada pode conseguir até um salário mínimo por mês com a atividade.

Sirlene Soares explica a importância do artesanato para a vida das mulheres do Jaíba: “Além de ser mais uma fonte de renda para nossas famílias, esse trabalho contribui para aumentar nossa autoestima. Muitas mulheres, antes de atuarem na associação, eram depressivas. O artesanato é uma terapia, porque ocupa a mente”.

A Associação dos Pequenos Produtores Rurais da Colonização Algodões, que fica no Perímetro de Irrigação Gorutuba, em Nova Porteirinha (MG), também encontrou outras formas de geração de renda. Com 20 associados, a entidade produz molho de pimenta, geleias de pimenta, manga e banana. Os produtos são comercializados em feiras regionais. “Esse trabalho representa mais uma fonte de renda. Assim, não ficamos dependentes só da roça”, afirma Marlene Barbosa, representante da associação.

Contudo, ela explica que a maior parte do sustento da associação é oriunda da venda de itens como carne de porco, frango caipira e frutas para a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Por meio de contrato, cada associado fornece, por ano, à empresa, o equivalente a R$ 4.500 em produtos destinados ao consumo humano.