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A Segurança Alimentar e Nutricional em Tempos de Pandemia do Covid 19

por Valeria Rosa Lopes publicado 20/07/2020 11h43, última modificação 18/08/2023 14h15

Desde 13 de março de 2020, o sinal vermelho foi aceso em todo o Brasil, causando temor ao desconhecido Coronavírus, batizado pelos cientistas de COVID 19. Nós brasileiros, assim como todos os demais países inicialmente afetados (principalmente Itália e Espanha), passamos a sentir os efeitos desse “Inimigo Invisível” que, semelhante ao seu “parente”, causador da devastadora Gripe Espanhola, há 100 anos, abateu-se sobre a humanidade.

A Segurança Alimentar e Nutricional da população, tornou-se fator importante e preocupante para todos! Principalmente a produção de alimentos para consumo in natura a qual depende de uma longa cadeia produtiva, são perecíveis a curto prazo, e até chegar às mesas dos consumidores, dependem de uma logística eficiente, acondicionamento e distribuição adequadas.

Em condições normais, estima-se perdas na cadeia em até 40%! Soma-se a isso, os cuidados com a possibilidade de contaminação pelo COVID 19.

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Figura 1: Mercado do Produtor de Juazeiro.

Em uma visão geral sobre o sistema de abastecimento brasileiro, relativo aos meses de abril e maio de 2020, quando a pandemia tomou as proporções que todos conhecemos, as Centrais de Abastecimento (CEASAS), forneceram informações importantes sobre a comercialização de hortigranjeiros, através do seu órgão representativo, a Associação Brasileira das Centrais de Abastecimento (ABRACEN), a qual congrega 22 associados e 60 mercados atacadistas, a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), que as reúne de modo sistemático, semanalmente, através do monitoramento da comercialização de hortigranjeiros, das CEASAS que as enviam.

Tomando como referência o período entre 10 e 17 de maio de 2020, ocorreu uma tendência de queda ou estabilidade nos volumes comercializados de hortifrutis nas CEASA abaixo descriminadas:

 

 

 Fonte: Conab, 2020

Tabela 1: Acompanhamento da Comercialização Ceasas

Ceasa

Hortaliças

Frutas

Hortifrutis

Ceasa/PE

4%

-10%

-4%

Ceasa/SC

19% 

-30% 25%

Ceagesp/SP

 2%

1% 1%

Ceasa/RJ

-11% 

-8% -9%

Ceasa/ES

 -4%

2%

-1%

Ceasa/GO

-20% 

71% 2%

Ceasa/MG

-3%

12% 3%

No polo Juazeiro-BA/Petrolina-PE, as informações coletadas junto a AMA- Autarquia Municipal de Abastecimento, instituição a qual o Mercado do Produtor de Juazeiro e feiras livres estão vinculados, houve uma variação de -20 a -30% na comercialização de hortigranjeiros.

É consenso geral nesses Mercados de Abastecimento, que essa situação decorre dos seguintes fatores: redução na demanda por parte de estabelecimentos comerciais como hotéis, restaurantes, lanchonetes, os quais estão fechados ou funcionando parcialmente por sistema de delivery; a sazonalidade de alguns produtos; fatores climáticos adversos como chuvas prolongadas no primeiro trimestre deste ano.

Segundo informam o Representante Comercial e Produtor Eduardo Dourado da “Global Crops Insumos Agrícolas” (Irecê- BA) e o Engenheiro Agrônomo George Libório, MSc. em Horticultura Irrigada da Bahiater, culturas tradicionais de ciclo curto como a cebola, sofreram uma queda significativa na sua produção e produtividade. Na região de Irecê-BA, que compreende os municípios de João Dourado, América Dourada, Lapão, dentre outros, que cultivam variedades híbridas, utilizando irrigação por gotejamento, em uma área aproximada de 3.000 hectares, que em condições normais chegam a produtividade de 100 toneladas por hectare, neste ano, teve uma redução de área plantada entre 30 a 40%, com produtividade em torno de 50%, ocasionadas pelas altas precipitações nos meses de março e abril, com volumes em torno de 400 mm, favorecendo o aparecimento de doenças fúngicas e bacterianas.

plantio cebola2.jpgFigura 2: Colheita de cebola no Projeto Público de Irrigação Salitre
Fonte: Oliveira, 2019.

Quanto a situação das principais culturas para exportação no Vale do São Francisco (uva e manga), de acordo com informações do Engenheiro Agrônomo Richard Leander, da “Special Fruits”, uma das maiores produtoras no Vale, não houve alteração na comercialização para o mercado externo, entretanto houve redução para o mercado interno, em função da disponibilidade reduzida de recursos financeiros.

packing2.jpg

Figura 3: Packing house de mamão para abastecimento do mercado interno e externo.
Fonte: Lopes, 2019.

Outro fator negativo apontando, foi em relação a qualidade da fruta, por conta das condições climáticas (chuvas acima da média para o período), pouca luminosidade e temperaturas mais amenas.

Por fim, esperamos que as medidas tomadas em todos os níveis governamentais para o combate e controle do COVID 19 surtam efeitos positivos, a fim de que vidas sejam poupadas, mas também, permitam de forma equilibrada e responsável a retomada das atividades econômicas, retornado o empreendedorismo e a empregabilidade, profundamente afetados nesse período de pandemia.