Cultivo da Pera no Semiárido brasileiro
Fernanda Viotti
Guilherme Knust Sad
Jaislane Ribeiro
A pera é uma das frutas de clima temperado mais consumidas no Brasil. Segundo dados da Embrapa, cerca de 95% de sua oferta em 2019 foi oriunda de importação. Segundo dados do ComexStat de 2021, os países que mais exportaram pera ao Brasil, respectivamente são: Argentina, Portugal e Espanha.
O principal motivo para essa forte dependência externa é pelo fato de que a produção nacional está limitada a apenas algumas regiões do país, com destaque para a região Sul e Sudeste. Pois, em regra, as frutas de inverno (de clima temperado) exigem temperaturas em torno de 7º C para brotação e floração, impossibilitando seu cultivo em outras regiões.
Porém, pesquisas recentes, tem possibilitado o cultivo da pera no Semiárido, permitindo vislumbrar o aumento da produção nacional como uma realidade possível. Para contornar a necessidade de baixa temperatura, a forma de manejo da cultura no Semiárido precisa diferir da utilizada no Sul do país. Segundo o pesquisador da Embrapa, Paulo Roberto Coelho Lopes, referência no assunto: “As variedades cultivadas (de pera no semiárido brasileiro) não são mais adaptadas ao calor. O que muda é o manejo, mas são usados os mesmos produtos dos plantios feitos no Sul e Sudeste”. Além disso, conforme o pesquisador, entre as variedades estudadas, cinco apresentaram melhores resultados em termos de produção e qualidade dos frutos para as condições climáticas da região. Foram elas: Triunfo, Princesinha, Housui, Centenária e Schmidt (Ceasape, 2022).
Os resultados da pesquisa realizada vão ao encontro dos interesses do produtor, ao abrir seu leque de culturas passíveis de diversificação. A diversificação é importante, tanto no aspecto financeiro da plantação, sobretudo por mitigar os riscos provenientes das “constantes” flutuações do mercado, quanto em seu aspecto técnico, por exemplo, a partir da redução da exposição aos riscos climáticos e fitossanitários (pragas e doenças).
Alguns Projetos Públicos de Irrigação, como é o caso de Nilo Coelho, situado em Petrolina (PE) e Lagoa Grande (Figura 1), situado no município de Lagoa Grande (MG), estão participando da experiência e colhendo, além de muitas peras, dados importantes para a consolidação da pesquisa e possível expansão da aplicação de seus resultados.
Mauricio Pereira é um dos produtores do Projeto Nilo Coelho que cultiva a pera da variedade triunfo. Ele comenta que iniciou a produção dessa fruta “porque enxergamos uma opção bem viável para o Vale do São Francisco. Começamos em 2013, e o primeiro teste de safra em 2016. No ano seguinte tiramos duas safras por ano”. Atualmente, o produtor obtém duas safras, a primeira com uma produtividade de 24 toneladas por hectare e a segunda com produtividade de 15 toneladas por hectare. Comercializamos no valor aproximado de R$3,00 a 4,00 o kg”, disse.
Figura 1: Produção de Peras em Lagoa Grande
Fonte: Saab, 2022.
Conforme dados de 2021 fornecidos pelo Distrito de Irrigação Senador Nilo Coelho (DINC), a experiência do projeto quanto à produção da fruta já conta com uma área cultivada de 9,6 hectares, sendo que desse valor 3,8 hectares foram plantados em 2021 e, portanto, ainda está em estágio de desenvolvimento. A produtividade média calculada em 2021 foi de 35 toneladas por hectare, enquanto o preço médio pago ao produtor esteve na faixa de R$ 6.160 por tonelada produzida.
Contudo, a perspectiva para o futuro é ainda mais promissora, segundo o engenheiro agrônomo da Codevasf Osnan Ferreira a cultura “poderia chegar a cerca de 60 toneladas por hectare no quarto ano de cultivo”, considerando a possibilidade de duas safras-ano (Agrolink, 2020).
Referências
CEASAPE Caqui, pera e maçã irrigadas no Semiárido. Disponível em: https://www.ceasape.org.br/noticias/caqui-pera-e-maca-irrigadas-no-semiarido. Acesso em fevereiro de 2022.
AGROLINK Pera cultivada no Vale do São Francisco é enviada à Serra Gaúcha (2021). Disponível em: https://www.agrolink.com.br/noticias/pera-cultivada-no-vale-do-sao-francisco-e-enviada-a-serra-gaucha_429277.html. Acesso em fevereiro de 2022.