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Controle da antracnose no cultivo da mangueira

por Fernando Néto publicado 06/11/2023 15h16, última modificação 06/11/2023 15h30

 Thiago Francisco de Souza Carneiro Neto¹
Ana Rosa Peixoto² 
Edvando Manoel de Souza³

Conforme o último levantamento da FAO, em 2020, o Brasil foi o sexto maior produtor mundial de manga, sendo notadamente a maioria dessa produção oriunda do Submédio do Vale do São Francisco (Juazeiro-BA/Petrolina-PE).

Contudo, embora a produção seja elevada, o processo de perdas pré e pós-colheita de mercadorias perecíveis, como é o caso da manga, causam um grande efeito na economia baseada na agricultura, sendo uma realidade na fruticultura brasileira.

As perdas econômicas causadas pela infecção por fungos em frutas e vegetais na cadeia pós-colheita são variáveis, geralmente atingem de 30 a 50% e, em algumas ocasiões, as podridões podem chegar a 100% de incidência, ou seja, levar à perda total dos frutos colhidos.

Dentre as perdas de origem fúngica, a Antracnose (Colletotrichum gloesporioides Penz.) é uma grande preocupação para os produtores de manga, uma vez que afeta várias partes da mangueira, incluindo as folhas jovens, panículas e frutos.

O maior impacto se deve aos danos nos frutos pela formação de manchas escuras e irregulares na casca, que podem coalescer e cobrir toda a casca do fruto, particularmente durante o transporte e armazenamento pós-colheita. Esse sintoma afeta severamente os lucros dos produtores, a exportação, a aceitação do fruto pelo consumidor, bem como reduz o valor de mercado e a qualidade da fruta (Figura 1).

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Figura 1. Manga ‘Tommy Atkins’, com sintomas de Antracnose em Juazeiro-BA.
Fonte: Thiago Carneiro Neto

As infecções de antracnose ocorrem principalmente em regiões tropicais e subtropicais, uma vez que sua ocorrência requer alta temperatura e alta umidade relativa durante o processo infeccioso. Na pós-colheita ocorre de forma quiescente, comprometendo a exportação da fruta. Por essas razões, culturas localizadas em regiões com precipitações frequentes e com molhamento do fruto por longos períodos, como ocorre durante o período chuvoso do 1º semestre do ano no Vale São Francisco, onde estão inseridos a maioria dos PPIs da Codevasf, são particularmente afetadas pela antracnose ainda no campo, o que pode comprometer a sustentabilidade do empreendimento.

De acordo com o Anuário Brasileiro da Fruticultura, ao longo de 2022, a umidade elevada no Vale do São Francisco diminuiu o volume exportado, em função do aumento da antracnose. Assim, os envios foram comprometidos, principalmente no 1º semestre, além do aumento do custo e redução da rentabilidade ao produtor, devido à maior quantidade de reaplicações de defensivos.

O controle mais efetivo é o preventivo, com adoção manejos culturais que reduzam o inóculo no pomar, baseado em fungicidas químicos ou biofungicidas, até a pré-colheita, como as estrobirulinas (azoxistrobina, piraclostrobina), os triazois (difenoconazol, tebuconazol), o mancozebe, o tiofanato-metílico e o oxicloreto de cobre, respeitando os períodos de carência e posicionamentos para a cultura a fim de se evitar resíduos.

Na pós-colheita em packing house, tem-se utilizado caldas de imersão/pulverização com azoxistrobina+fludioxonil a 5 mL/L, chegando a 100% de controle da antracnose; ou com trans-Cinamaldeído a 15 mL/L (composto da canela).

¹MSc. em Agronomia, Codevasf, 6ª SR;
²DSc. em Fitopatologia, Universidade do Estado da Bahia;
³DSc. em Agroecologia e Desenvolvimento Territorial, Ministério da Agricultura e Pecuária.

Referências

ANUÁRIO HF BRASIL. Anuário 2022-2023 da Hortifruti Brasil. CEPEA Esalq, 2022.
Disponível em: https://www.hfbrasil.org.br/br/revista/acessar/completo/anuario-hf-brasil-retrospectiva-2022-perspectiva-2023.aspx. Acessado em: 26 ago. 2023.

CIOFINI, A. et al. Management of Post-Harvest Anthracnose: Current Approaches and Future Perspectives. Plants, v. 11, n. 14, 1856, 2022.