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Fertilizantes caros: tem alternativas?

por Valeria Rosa Lopes publicado 21/10/2022 10h32, última modificação 17/08/2023 18h38

Paulo Cerqueira
Ricardo Barros Vieira

O agronegócio Brasileiro tem assegurado não só um superávit na balança comercial, mas também, garantindo uma produção equivalente a 10% da necessidade mundial por alimentos. Entretanto, a dependência da importação de adubos e fertilizantes, que ano passado sofreu um acréscimo de valor de 89% em relação a 2020, com projeções de incremento de valor ainda maior para 2022, pode comprometer esse desempenho. (IPEA, 2022; CONTINI E ARAGÃO, 2021; FAZCOMEX, 2022).

Atualmente, o Brasil é responsável por cerca de 8% do consumo global de fertilizantes, sendo o quarto maior importador do mundo, atrás apenas da China, Índia e Estados Unidos. A demanda crescente tem sido atendida via aumento das importações: mais de 80% das Fontes Convencionais de Nutrientes (FCN) são importados, apesar da existência de grandes reservas dessas matérias-primas em território nacional, inviabilizados por impostos, logística e impactos socioambientais, frente a um oligopólio internacional (RODRIGUES, 2008, 2009; SEAE, 2020).

Sem dúvida, há riscos à segurança alimentar e a economia devido a dependência da agricultura nacional em relação aos fertilizantes importados, principalmente de produtos agrícolas que atendem o mercado interno e não estão vinculados ao dólar: como é o caso das hortaliças e a maioria das frutas, que tem seus custos elevados e rentabilidade reduzida.

O uso racional de fertilizante e adubos a partir de uma cuidadosa análise de solo, oportunizando sua aplicação preferencialmente via água de irrigação e conforme a fase fenológica da cultura, é a melhor estratégia de curto prazo, sendo o que pretende a Embrapa através da “Caravana FertBrasil”, que visa promover o aumento da eficiência de uso dos fertilizantes e insumos no campo, estimulando a adoção de tecnologias e de boas práticas de manejo de solo, água e plantas, visitando cerca de 30 polos produtivos de nove macrorregiões agrícolas do Brasil (MAPA, 2022).

A médio prazo, vale a pena investir no manejo e incremento da matéria orgânica, já atua como condicionadora do solo, melhorando as condições físicas, químicas e biológicas: promovendo a cobertura vegetal, consórcios, rotações de culturas, abubação verde ou cobertura morta (principalmente com leguminosas) e cultivo mínimo (plantio direto), além de outras práticas de manejo de solo e água (calagem, gessagem, compostagem, monitoramento da fertilidade, plantio em nível, recuperação do fósforo imobilizado via microorganismos, manejo de irrigação, combate aos processos erosivos).

Mas, para compor uma solução de longo prazo em relação ao mercado de fertilizantes, o Governo Federal, a partir do Decreto nº. 10.991/2022, instituiu Plano Nacional de Fertilizantes (PNF) 2022 a 2050 e o Conselho Nacional de Fertilizantes e Nutrição de Plantas, com 5 diretrizes, dentre elas destacam-se a melhoria do ambiente de negócios, adequação da infraestrutura para a integração de polos logísticos e a viabilização de novos empreendimentos, com tecnologia, inovação e sustentabilidade para produção e distribuição de fertilizantes.

A busca por Fontes Alternativas de Nutrientes (FAN) tem importante papel estratégico: no novo paradigma, as características das FAN apresentam vantagens relativas ao modelo anterior (FCN), como a grande abundância e distribuição no território nacional, admitindo escalas menores e a produção e utilização regional, favorecendo a economia local, e, devido à baixa solubilidade das FAN, a redução da lixiviação e o aumento da fertilidade do solo, pelo efeito residual e condicionador do pó de rocha, podem contribuir para a sustentabilidade do agroecosistema (MARTINS et al., 2010).

Referências

CONTINI, E., ARAGÃO A. O Agro Brasileiro alimenta 800 milhões de pessoas (2021). Disponível em: <https://www.embrapa.br/en/busca-de-noticias/-/noticia/59784047/o-agro-brasileiro-alimenta-800-milhoes-de-pessoas-diz-estudo-da-embrapa> Acesso em: 23/05/2022.

FAZCOMEX. Importações de Adubos e Fertilizantes (2022). Disponível em: <https://www.fazcomex.com.br/blog/importacoes-de-adubos-e-fertilizantes/>. Acesso em: 24/05/2022.

IPEA. Balança comercial do agronegócio brasileiro apresenta superávit de US$ 105,1 bilhões em 2021 (2022). Disponível em: <https://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_ content&view=article&id=38868&catid=3&Itemid=3 > Acesso em: 23/05/2022.

MAPA, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Pesquisa: Caravana Embrapa FertBrasil vai a 30 polos agrícolas para mostrar como aumentar a eficiência dos fertilizantes (2022) Disponível em: <https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/noticias/caravana-embrapa-fertbrasil-vai-a-30-polos-agricolas-para-mostrar-como-aumentar-a-eficiencia-dos-fertilizantes-1>. Acesso em 27/05/2022.

MARTINS, E. de S. et al. Materiais silicáticos como fontes regionais de nutrientes e condicionadores de solos. In: FERNANDES, F. R.; LUZ, A. B. da; CASTILHOS, Z. C. Agrominerais para o Brasil. Rio de Janeiro: CETEM/MCT, cap. 5 p. 89-104, 2010. Disponível em: <http://mineralis.cetem.gov.br:8080/bitstream/cetem/907/1/cap5.pdf> Acesso em : 30/05/2022.

RODRIGUES, A.F.S. Agronegócio e Mineralnegócio: Relações de dependência e sustentabilidade. In: RODRIGUES, A.F.S. (Diretor) Informe Mineral: Desenvolvimento & Economia Mundial (2008). Brasília; DNPM, v.6, 47p. Disponível em: <https://www.gov.br/anm/pt-br/centrais-de-conteudo/dnpm/informes/informe-mineral-2008-2o-semestre> Acesso em: 30/05/2022.

RODRIGUES, A.F.S. (2010). Mineração para o Agronegócio. In: RODRIGUES, A. F. S. (coord.), Economia Mineral do Brasil. Brasília: DNPM, 2009, cap. 7, p. 532‐595.

SEAE, Secretaria Especial de Assuntos Estratégicos. Produção Nacional de Fertilizantes: estudo estratégico (2020). Disponível em: <https://www.gov.br/planalto/pt-br/assuntos/assuntos-estrategicos/documentos/estudos-estrategicos/sae_publicacao_fertilizantes_v10.pdf>. Acesso em: 27/05/2022.