Aquaponia: uma alternativa sustentável
Um modelo de produção agrícola sustentável deve levar em conta a integração dos processos produtivos na eficiência do uso de insumos e otimização dos recursos naturais (água e solo). Buscando essa intenção, a aquaponia, um sistema intensivo de recirculação e reuso de água da aquicultura integrada com a hidroponia, vem como resposta a ambientes restritos de espaço e qualidade de solo, promovendo um maior controle no uso da água, além de mais uma oportunidade de emprego e renda, tão carente em nosso País.
O sistema é composto comumente por cinco compartimentos: tanque de criação aquícola; tanque de decantação para a remoção de particulados não solubilizados; tanque de filtração biológica para a mineralização dos excrementos produzidos pelos animais; camas de cultivo de plantas, que constitui a parte do sistema hidropônico e; reservatório, que inclui a bomba d’água para recirculação (Figura 1).
Figura 1: Unidade demonstrativa de criação de tilápia integrada com cultivo de hortaliças na Codevasf Sede: “A” indica o tanque de criação do pescado; “B” é o filtro de decantação de resíduos não solubilizados; “C” é o filtro biológico; e, “D” cama de produção de hortaliças. Fotos cedidas pela Unidade de Recursos Pesqueiros e Aquicultura (AR/GDT/UPA).
A tilápia tem sido a espécie de peixe mais utilizada, por apresentar grande número de fornecedores de alevinos e ração, além de boa aceitação no mercado. O peixe também tem excelentes índices zootécnicos de conversão alimentar e rusticidade, mas outras espécies podem ser adaptadas conforme a região e interesse econômico.
A amônia é o principal resíduo resultante do metabolismo dos peixes, sendo tóxico, pois o acúmulo nos tanques provoca redução da produção devido ao aumento do estresse animal, incidindo na ocorrência de doenças e mortalidade. A filtragem biológica do sistema converte a amônia em nitrato, por meio de microrganismos, que é absorvida como nutriente pela planta, devolvendo a água limpa ao tanque do pescado.
No Brasil a tecnologia ainda está incipiente e são poucos os empreendimentos de aquaponia funcionando em escala comercial. A tecnologia tem sido adaptada para atender às necessidades nutricionais de uma pequena família rural ou de ambiente urbano.
Entretanto, essa prática não é restrita à produção em pequena escala. Existirem vários sistemas de aquaponia em uso em outros países, como nos EUA, Austrália e outros países da Ásia. Como a aquaponia tem por base a reciclagem da água, ela não só promove expressiva economia desse insumo como também reduz a geração de efluentes ricos em nutrientes, evitando a eutrofização dos corpos d’água receptores. Não obstante, um ambiente fechado de produção, pode promover um maior controle de doenças.
Convém destacar que para a dimensionamento, operação e manutenção de um sistema de aquaponia é necessário conhecimento técnico, para a estabilizar o ambiente produtivo, monitorar os parâmetros de qualidade da água e teores de nutrientes. Além disso, não pode haver interrupções no fornecimento de energia elétrica, pois é exigida a utilização de equipamentos como aeradores e bombas d’água, que precisam estar funcionando continuamente, principalmente em sistemas comercias.
Além disso, o custo de produção deve ser bem observado, comparando-se o sistema com a produção convencional em solo, ou, até mesmo com a hidroponia tradicionalmente praticada. Nesse contexto, qualquer estudo estratégico visando à implantação de projetos voltados à aquaponia, devem ser precedidos de diagnósticos locais, quanto à aptidão socioeconômica. Recomenda-se ainda buscar selos de qualidade de produção sustentável, agregando-se valor ao produto.
Nesse sentido, com o objetivo de aplicar e difundir a tecnologia, gerando dados de produção, produtividade e viabilidade econômica, uma unidade demonstrativa de criação de tilápia integrada com cultivo de hortaliças foi implantada no início de 2019 pela Unidade de Recursos Pesqueiros e Aquicultura, na Codevasf sede, em Brasília. O objetivo da unidade demonstrativa também é o de orientando os agricultores familiares na consecução de projetos comerciais ou de segurança alimentar no âmbito das áreas de atuação da Codevasf e por isto a visita está aberta ao público.