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Opções de negócios

Matéria divulgada no “Jornal da Cidade”, Sergipe Texto: Max Augusto O rio São Francisco é uma dádiva para o Nordeste. Infelizmente, o assunto mais em voga tem sido a transposição das suas águas, polêmica que vem envolvendo mais política do que discussões técnicas. Enquanto isso, os governantes esquecem de aproveitar aquele manancial, viabilizando o desenvolvimento sustentável da região, através do turismo e outras atividades.Mas, alguns pequenos empreendedores estão acordando para este potencial econômico que as águas do Velho Chico trazem consigo. Apoiados por instituições como o Sebrae e a Codevasf, eles estão desenvolvendo negócios que exigem um baixo investimento e podem ser uma excelente alternativa para as comunidades da região.
publicado: 19/09/2005 15h40, última modificação: 01/11/2022 14h04

Matéria divulgada no “Jornal da Cidade”, Sergipe Texto: Max Augusto O rio São Francisco é uma dádiva para o Nordeste. Infelizmente, o assunto mais em voga tem sido a transposição das suas águas, polêmica que vem envolvendo mais política do que discussões técnicas. Enquanto isso, os governantes esquecem de aproveitar aquele manancial, viabilizando o desenvolvimento sustentável da região, através do turismo e outras atividades.Mas, alguns pequenos empreendedores estão acordando para este potencial econômico que as águas do Velho Chico trazem consigo. Apoiados por instituições como o Sebrae e a Codevasf, eles estão desenvolvendo negócios que exigem um baixo investimento e podem ser uma excelente alternativa para as comunidades da região.

Dois bons exemplos são a criação de ostras, no povoado Carapitanga, no município de Brejo Grande, a 137 quilômetros de Aracaju, e a estação de piscicultura da Codevasf, no povoado Betume, em Neópolis, a 121 quilômetros da capital.

Na semana passada, uma equipe do programa Pequenas Empresas Grandes Negócios, exibido pela rede Globo, visitou a região para conhecer melhor estes projetos. Até o início do próximo mês, as reportagens devem ser exibidas.

Ostras

Partindo do município de Brejo Grande e passando pelo povoado Brejão, seguindo por tortuosos dezessete quilômetros de barro, buracos e poeira, chega-se ao povoado Carapitanga. Com uma carona de pequenos e velhos barcos a motor, seguimos pelo Riacho Carapitanga, um afluente, até chegarmos ao curso principal do Rio São Francisco.

É lá, na entrada de outro pequeno afluente, que se vê algumas cestas, penduradas em fios que parecem varais de secar roupa a poucos centímetros das águas. É uma criação de ostras. Há cerca de oito anos, Miguel dos Santos, morador da região, ouviu falar nas ostras e resolveu criá-las. Foi o primeiro no Estado a investir no "cultivo" desses moluscos.

Com a ajuda da sua mulher, Maria Francisca, e a sua tia, Joelma dos Santos, ele administra três pequenos criatórios, todos na mesma região. Toda semana, ele vende pelo menos 500 ostras, ao preço de R$ 35,00 o cento. Ele garante que pode atender até mil ostras semanais. Sua produção tem destino certo: as mesas de bares e restaurantes em Aracaju e em Maceió. O "tele-ostra", como Francisca gosta de chamar o seu celular, não pára de tocar, segundo ela. "Estamos vendendo bem, hoje vivemos exclusivamente do cultivo das ostras", conta ela.

Criação

A gestora do Sebrae nos projetos de aquicultura, Lúcia Alves, explica passo a passo a criação desses saborosos petiscos. Primeiro é necessário escolher um local com baixa salinidade, e longe de áreas urbanas, para evitar o contato com dejetos e poluição. "A ostra filtra cerca de oito litros de água por hora. Se a água tiver impurezas, elas vão ficar na ostra, por isso a importância de um local limpo", conta Lúcia. A estrutura necessária é simples.

São troncos de coqueiros, às margens do rio, que seguram fios de nylon, onde ficam dependuradas "cestas" com as ostras. Lá, elas passam pela fase da engorda, utilizando apenas as cheias e as baixas da maré. "As ostras não precisam de ração ou qualquer tipo de insumo, por isso não agridem o ambiente. Elas convivem perfeitamente com o manguezal", explica Lúcia. "A criação de ostras é uma alternativa viável para essa população ribeirinha. O investimento é baixo, com cerca de R$ 3 mil reais compra-se 500 mil unidades, para que se inicie a produção", fala Lúcia Alves. Ela lembra apenas que é necessário um rigoroso acompanhamento e conhecimento das técnicas do manejo periódico.

Piscicultura

Não muito longe dali, no povoado Betume, município de Neópolis, para ser mais preciso, outro empreendimento começa a tomar força. A piscicultura. A criação de peixes em tanques (fora do rio, mas utilizando a água dele) é uma atividade que se mostra bastante promissora em Sergipe. O Estado possui um bom potencial, graças aos vários municípios ribeirinhos.

A 4 ª Estação de Piscicultura da Codevasf (EPB), naquele povoado, é quem tenta implantar a piscicultura como uma alternativa viável de renda. A função dela é a produção de alevinos (os filhotes de peixe) e o treinamento de qualquer empreendedor que se interesse por esse tipo de produção. Eles mantém viveiros cujo objetivo atual é pesquisa e treinamento.

Reprodução

Em tanques de cimento, são separados os alevinos, e em outros, os reprodutores, que são os melhores peixes encontrados. Apenas depois disso é que os demais seguem para os tanques, escavados em terrenos comuns. A EPB trabalha com a reprodução de tambaquis, tilápias, carpas, chiras e piaus, principalmente. Essa reprodução não é voltada apenas para os produtores. Faz parte de um projeto que visa repovoar a ictofauna dos rios, riachos, açudes e lagoas sergipanos.

Várias cidades já foram beneficiadas, entre elas: Poço Redondo, Feira Nova, Amparo do São Francisco, Itabi, Monte Alegre, Capela, e todos os municípios do baixo São Francisco. O responsável pela estação, Júlio Alves, ressalta que o projeto não consiste apenas em "jogar" os peixes no rio. "Estabelecemos projetos com as prefeituras e capacitamos técnicos em cada município. Em parceria com eles, fazemos o acompanhamento de todo o processo", explica Júlio.

Tilápia

 A grande estrela da EPB é mesmo a tilápia. Introduzida no Brasil na década de 50, ela é hoje o segundo peixe mais comercializado do mundo. Sua carne é considerada de ótima qualidade, macia, e com baixo teor de gordura. Só os Estados Unidos importam cerca de 120 mil toneladas por ano. A produção sergipana se limita a abastecer o mercado interno. "Estamos tentando incentivar a cadeia produtiva da tilápia, em todo o Estado, capacitando produtores e difundindo a piscicultura", explica a engenheira de pesca Ana Cecília. Ela destaca três pontos importantes para quem quer investir nessa área: a capacitação teórica, o associativismo e o empreendedorismo. "As associações exercem um papel fundamental, na compra de rações, negociação do preço e na venda da mercadoria", explica ela.

 Associação

Em sua área, a Codevasf fez uma seção de uso, há cerca de oito anos, para a Associação das Mulheres do Betume. Depois de um longo tempo desativada, ela voltou a funcionar no início do ano. São quatro viveiros, que trabalham com a produção de tilápias. Integrada por seis mulheres e quatro homens, a associação dispõe de uma área onde sua produção é beneficiada. É o que eles chamam de "filetagem". Nada mais é do que extrair o "filé" do peixe.

Todo o processo é conduzido pelos membros da associação. A estrutura é simples, mas muito organizada, obedecendo todos os padrões de limpeza. A presidente da associação, Gilda dos Santos, conta que a filetagem é feita duas ou três vezes por semana. Eles têm capacidade para produzir até 400 quilogramas de filé, por semana, mas vêm produzindo cerca de 200, por falta de pedidos. Uma mostra que, se recebessem incentivos do governo e tivessem um acesso mais fácil a crédito, a produção seria ainda maior.