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PROJETO JEQUITAÍ

publicado: 23/09/2004 11h50, última modificação: 01/11/2022 14h00

        

A idéia de se irrigar o extenso vale localizado entre a serra do Espinhaço e a serra da Onça, por onde corre o rio Jequitaí, tendo como divisores de água a bacia do rio Verde Grande ao norte e o rio das Velhas ao sul, nasceu na década de 50, quando a Comissão do Vale do São Francisco contratou o “Bureau of Information” para estudar projetos de desenvolvimento agrícola ao curso do rio São Francisco.

A agência americana sugeriu, dentre vários estudos feitos ao longo do “Velho Chico”, um grande projeto de irrigação no vale do Jequitaí. Mas durante os 20 anos seguintes a sugestão do “Bureau” não passou dos limites de uma simples idéia, ainda que vez por outra alguém se lembrasse de que aquelas terras ao curso do rio Jequitaí eram boas e fertéis terras, com uma topografia privilegiada e um potencial enorme para a agricultura e a pecuária.

Em 1975 a SUVALE, sucessora da Comissão do Vale do São Francisco, iniciou a implantação de um projeto de irrigação próximo à cidade de Pirapora, entre as confluências dos rios São Francisco e das Velhas.

A idéia inicial era montar um piloto que servisse como experimento para o sonhado Projeto Jequitaí. Como não havia recurso para nada de grandes dimensões, construir-se-ia primeiro um perímetro pequeno, para que seus resultados servissem depois como incentivo para a implantação do grande projeto, abrangendo todo o vale do Jequitaí, beneficiando aí vários municípios com pouquíssimas possibilidades de desenvolvimento, como Claro dos Poções, Jequitaí, Lagoa dos Patos, Francisco Dumont, Várzea da Palma, Ibiaí e até mesmo Pirapora.

Com a extinção da SUVALE em 1976 e a criação da CODEVASF, esta deu continuidade às obras de implantação do projeto iniciado, que era conhecido como PPI – Projeto Piloto de Irrigação, cujo objetivo era irrigar cerca de 1.500 hectares às margens do rio São Francisco, distante 12 quilômetros da cidade de Pirapora e cortado pela recém inaugurada BR-365, ligando Montes Claros ao Triângulo Mineiro, estrada que viria garantir o escoamento da produção.

Em 1979, com toda pompa e com a presença do governador de Minas na época, Ozanam Coelho, o projeto piloto foi inaugurado. Ao cortar a fita inaugural da obra, o então presidente da CODEVASF, engenheiro Nilo Peçanha, não deixou de lembrar em seu discurso que ali plantava-se o marco inicial para ambições maiores, ou seja, a implantação futura do Projeto Jequitaí, este sim, o grande sonho de desenvolvimento da região.

Após 25 anos, o perímetro irrigado de Pirapora tornou-se um sucesso, produzindo uma das mais saborosas uvas do país – por sinal, onze qualidades diferentes, inclusive uva de mesa sem caroço. O pequeno piloto transformou-se, na verdade, na mais bem sucedida investida da CODEVASF na área da irrigação no norte de Minas.

 Apesar da maior fama dos projetos Jaíba e Gorutuba, até por terem áreas bem superiores, é o pilotinho de Pirapora quem apresenta não só a maior produtividade como também a maior renda por hectare, sendo considerado mesmo o perímetro irrigado mais “enxuto” daquela empresa pública em todo o vale do São Francisco.

 A produção de uva de primeiríssima qualidade (cerca de seis mil toneladas anuais) já fez até com que Pirapora promovesse, anualmente, a tradicional “Festa da Uva”, sempre no mês de setembro, época em que os parreirais encontram-se carregados e em plena safra. A festa ainda está longe de se comparar com a que se realiza em Caxias, no Rio Grande do Sul, mas vem crescendo a cada ano e atraindo turistas.

Mesmo com todo o sucesso daquele que seria o piloto, simples campo de pesquisa para o empreendimento maior, o Projeto Jequitaí continuou sem sair do papel. Na década de 80, o máximo que a CODEVASF conseguiu foi concluir o primeiro projeto executivo da obra.

Depois, várias reformulações foram sendo feitas, até que se chegou ao projeto atual, que prevê a construção de dois barramentos em concreto rolado, para a geração de 20,0 MW de energia e a irrigação pública de 18.988 hectares, mais 16.012 hectares de irrigação privada, totalizando 35 mil hectares de áreas irrigáveis.

 Mas a concretização do projeto esbarra em seu custo, orçado em cerca de U$246 milhões, dinheiro que a CODEVASF nunca tem e que a classe política da região não consegue viabilizar, ainda que o empreendimento seja capaz de gerar 28 mil empregos diretos e 56 mil indiretos, beneficiando um total de 84.600 pessoas.

Isto numa região pobre, onde emprego vale ouro. O atual superintendente da CODEVASF em Minas Gerais, Anderson de Vasconcelos Chaves, que antes trabalhou em Pirapora como diretor da FRANAVE, e que por isso tem uma convicção muito grande de como o Projeto Jequitaí é importante para o desenvolvimento daquela região localizada entre a serra do Espinhaço e o rio das Velhas, afirma que colocou o empreendimento como seu objetivo principal. “Tanto que minha primeira ação como superintendente foi promover uma reunião em Pirapora, com todos os municípios da AMMESF (Associação dos Municípios do Médio São Francisco), que são os maiores interessados no projeto Jequitaí, para mobilizar as lideranças políticas da região em favor de sua imediata construção”.

Segundo Chaves, após a primeira reunião, houve uma audiência pública da Assembléia Legislativa em Pirapora, convocada pela deputada Ana Maria Resende, realizada em setembro do ano passado, quando o assunto voltou à baila, dessa vez com muito maior força.

Além da deputada Ana Maria, participaram também da audiência os deputados estaduais Carlos Pimenta e Wanderley Ávila, a secretária Elbe Brandão e o deputado Athos Avelino, além de uma infinidade de prefeitos, vereadores e lideranças empresariais. “A audiência foi ótima, mas até agora produziu poucos resultados, pois tudo continua apenas nas promessas”, acentua o super da CODEVASF, sem conseguir esconder um pouco de decepção, ainda que no orçamento de 2004 da União haja recursos da ordem de 12 milhões para início da obra, fruto de trabalho do superintendente junto aos deputados federais da região.

O GORUTUBA COMO EXEMPLO Para o secretário executivo da AMMESF, Adelson Toledo, hoje há uma consciência muito grande entre os prefeitos filiados à entidade (são dez no total), de que a implantação do Projeto Jequitaí é a única esperança de desenvolvimento para seus municípios. “Como são municípios pobres, que vivem exclusivamente da agropecuária, sem nenhuma perspectiva de industrialização, só mesmo um grande projeto de irrigação, como o de Jequitaí, poderá criar novas fontes de riqueza para a população.

É um sonho que significa mudança de vida e novos horizontes e os prefeitos sabem disso”, explica Toledo, também um entusiasta do projeto. Nem Toledo, nem os prefeitos da AMMESF estão errados em seu raciocínio.

Um projeto de irrigação do tamanho do de Jequitaí tem condições de modificar completamente o cenário sócio-econômico dos municípios localizados na área de influência do empreendimento.

O melhor exemplo, para não ir muito longe, é o Perímetro Irrigado do Gorutuba, com pouco mais de seis mil hectares irrigados, e que transformou a cidade de Janaúba na mais rica do norte de Minas depois de Montes Claros, além de ter sido responsável pela criação do município de Nova Porteirinha, uma cidade que simplesmente não existia antes do funcionamento do projeto, inaugurado em 1980.

O perímetro irrigado do Gorutuba injeta em Janaúba e Nova Porteirinha, para alimentar suas economias, mais de dez milhões de reais por ano, mercê de uma produção acima de 30 mil toneladas de alimentos (frutas e grãos). No Gorutuba encontra-se hoje a maior produção de banana do estado de Minas.

É calcado neste exemplo que os prefeitos da AMMESF enxergam o Projeto Jequitaí como a alavanca que poderá impulsionar o desenvolvimento sócio-econômico de seus municípios, todos muito pobres e sem nenhuma esperança de grandes melhorias (exceção para Pirapora e Várzea da Palma, que contam com algumas indústrias).

Segundo técnicos da CODEVASF, quando totalmente implantado o Projeto Jequitaí deverá gerar uma produção acima de 600 mil toneladas por ano, irrigando a economia dos municípios situados na área do empreendimento com valores acima de R$360.000.000,00 por safra, um número maior que o orçamento somado das 10 prefeituras que compõem a AMMESF.

 Isto sem falar nos recursos que serão gerados pelo turismo, já que as barrragens a serem construídas para possibilitar a irrigação, irão criar um lago com área em torno de 10 mil hectares e com acumulação de 780 milhões de metros cúbicos de água, superior à barragem do Bico da Pedra, fonte hídrica do Projeto Gorutuba. Um lago desse tamanho abre imensas perspectivas para o turismo, numa região onde o sol é privilégio em quase todos os dias do ano.

A deputada Ana Maria Resende por três vezes em Pirapora já se comprometeu publicamente em brigar pela implantação do Projeto Jequitaí. Em agosto do ano passado, em reunião da AMMESF; logo depois em setembro, na audiência pública da Assembléia Legislativa, que ela própria requereu; e no princípio deste ano, em visita do então presidente da CODEVASF, Francisco Guedes, àquele município.

Durante almoço oferecido pela prefeitura da cidade, a deputada não se cansou de enumerar os benefícios que o projeto Jequitaí viria trazer para os municípios daquela região. Sua briga, entretanto, até agora não gerou nenhum resultado prático, mas as lideranças locais continuam acreditando nas promessas. Caso o projeto continue engavetado até as próximas eleições, a deputada estará em maus lençóis com os eleitores daqueles municípios.

O deputado Carlos Pimenta é outro que também está comprometido com a mesma promessa, pois em várias oportunidades tem defendido a implantação do projeto. Participou das duas reuniões em Pirapora no ano passado e já chegou, há quatro anos atrás, a promover um simpósio em Belo Horizonte, na Assembléia Legislativa, sobre a necessidade de construção do empreendimento, como única forma de desenvolvimento do norte de Minas.

O deputado Wanderley Ávila, até por ser votado em Pirapora e demais municípios da AMMESF, deveria ser outro engajado no movimento pró-Jequitaí, mas até hoje nunca mostrou muito entusiasmo pelo assunto. Ou, pelo menos, nunca se manifestou publicamente, indo assim na contramão de seus eleitores.

De qualquer forma, está comprovado que apenas apoio de deputados da região não será suficiente para tirar o Projeto Jequitaí do papel. A não ser que se faça como na Bahia, até hoje de longe o estado mais beneficiado com projetos implantados pela CODEVASF.

 Lá, os pedidos de recursos para os projetos de irrigação no semi-árido partem não apenas de deputados isolados, mas de toda a bancada federal, com o apoio irrestrito do governador. Até por isso, enquanto o norte de Minas mendiga há mais de 20 anos pelo Projeto Jequitaí, neste mesmo período a Bahia conseguiu tirar do papel um monte de obras de menor importância.

Mas que transformaram regiões antes pobres daquele estado, em prósperos pólos de agricultura irrigada, como é o caso de Barreiras. “O presidente da CODEVASF esteve no ano passado com o governador Aécio Neves, para lhe mostrar a importância do Projeto Jequitaí e o interesse da empresa em executá-lo”, conta Anderson Chaves, que acredita que a obra sai se o governador realmente se interessar. “O peso do governador de Minas junto ao governo federal talvez seja o único meio realmente capaz de conseguir a liberação dos recursos para a execução das obras”, acentua o superintendente.

O bom senso mostra, então, que só os deputados da região poderão motivar o governador Aécio Neves a assumir o Projeto Jequitaí. O seu custo para o governo federal (246 milhões de dólares) vale muito pouco frente ao pedido de um governador de Minas. Que quando quer, consegue. E um bom exemplo, no próprio norte de Minas, é a barragem do Bico da Pedra, outra obra que ficou por muitos e muitos anos no papel.

Até que o então governador Aureliano Chaves, em 1976, motivado pelos deputados Humberto Souto e Francelino Pereira, trouxe a Montes Claros o ministro do Interior, Rangel Reis, quando a região vivia uma seca dos diabos. Na solenidade no Automóvel Clube de Montes Claros, o pecuarista Edílson Brandão, pai da hoje secretária Elbe Brandão, foi um dos que mais ajudaram a defender a construção da barragem.

Pressionado, o ministro assinou a autorização para o início imediato das obras, que dois anos depois estariam concluídas, com a grande represa sendo inaugurada no final de 1979. Talvez, quem sabe, se a secretária Elbe Brandão agisse como seu pai, motivando o governador Aécio Neves a encampar o Projeto Jequitaí, ficaria bem mais fácil concretizar um dos mais importantes alicerces para o desenvolvimento do semi-árido norte mineiro.

CARACTERÍSTICAS TÉCNICAS JEQUITAI I - FICHA TÉCNICA DADOS HIDROLÓGICOS E ENERGÉTICOS

Vazão regularizada .................................................. 36,65 m3/s Área inundada no N.A. Max. Normal .................... 90,00 Km2 Volumes: - No N.A Max. Normal ............................ 780 x 106m3 - Útil ....................................................... 673 x 106m3 Energia Firme ............................................................. 6,88 MW

BARRAGEM

Altura máxima ............................................................ 42,00 m Comprimento total ...................................................... 274 m CASA DE FORÇA Turbina ................................................ 1 Kaplan de eixo vertical Potência instalada ......................................................... 8,00 MW

SERVIÇOS PRINCIPAIS Escavação comum ......................................................... 94.300 m3 Escavação em rocha ...................................................... 88.200 m3 Concreto compactado a rolo .........................................106.600 m3 Concreto convencional ................................................... 21.900 m3 CUSTO

TOTAL ESTIMADO Barramento ............................................................ US$ 47.789.474 Obras de geração .................................................... US$ 9.336.292

JEQUITAI II - FICHA TÉCNICA DADOS HIDROLÓGICOS E ENERGÉTICOS

Área inundada no N.A Max. Normal ........................... 1,00 Km2 Volumes: No N.A Max. Normal .................................... 20 x 106m3 Útil ................................................................. 0 Energia Firme ................................................................. 5,57 MW BARRAGEM

Altura máxima ........................................................... 45,00 m Comprimento total ..................................................... 177,00 m

CASA DE FORÇA Turbina .............................................. 2 Francis de eixo vertical Potência instalada ....................................................... 12,00 MW

SERVIÇOS PRINCIPAIS Escavação comum .......................................................... 48.900 m3 Escavação em rocha ....................................................... 140.700 m3 Concreto compactado a rolo ........................................... 64.800 m3 Concreto convencional ..................................................... 16.700 m3

CUSTO TOTAL ESTIMADO Barramento ............................................................... US$ 18.661.012 Obras de geração ...................................................... US$ 14.837.819 PERÍMETRO PÚBLICO DE IRRIGAÇÃO (18.988 HA) 1 – Serviços preliminares .......................................... US$ 7.958.250 2 – Sistemas principais de adução ............................ US$ 79.582.507 3 – Sistema de distribuição ........................................ US$ 59.074.706 4 – Núcleo administrativo de obras .......................... US$ 6.427.817 TOTAL ............................................................US$ 153.043.280